Refletir sobre falhas durante um voo pode causar apreensão em qualquer passageiro. No entanto, os problemas técnicos em aeronaves ocorrem com mais frequência do que se pensa, e, na maioria das vezes, não representam um risco real de queda.
As companhias aéreas muitas vezes omitem que essas falhas são parte da rotina da aviação comercial, sendo previstas por meio de rigorosos protocolos de segurança e enfrentadas com treinamento contínuo para as equipes.
Por exemplo, em setembro, um voo da Qantas que partiu de Darwin, na Austrália, precisou efetuar uma descida abrupta de mais de 6 mil metros devido a um alerta de pressurização. Embora o episódio tenha causado preocupação, o pouso foi realizado sem problemas. Situações como essa demonstram como o sistema aéreo é estruturado para lidar com anomalias, algo que não é amplamente divulgado aos passageiros.
Aqui estão quatro falhas comuns que as companhias normalmente preferem não comentar, além de como os pilotos agem para garantir a segurança de todos.
### 1. Falhas no Sistema de Pressurização
Em grandes altitudes, o ar é rarefeito, com temperaturas que podem chegar a –55ºC. Para garantir um ambiente adequado, os aviões utilizam um sistema de pressurização que controla a entrada de ar dos motores. Quando ocorre uma falha nesse sistema, a equipe de voo realiza uma descida rápida e controlada até uma altura segura de cerca de 10 mil pés, onde a respiração é possível sem oxigênio suplementar.
“A ação pode parecer alarmante para os passageiros, mas é um procedimento seguro e previsto”, explica Guido Carim Júnior, professor de aviação da Griffith University, na Austrália. Essas falhas são comuns e geralmente geridas de maneira eficaz.
### 2. Perda de um Motor em Voo
Um dos maiores receios entre os passageiros é a falha de motor; porém, essas situações são bem mais gerenciáveis do que se imagina. As aeronaves modernas são projetadas para operar com um motor em funcionamento sem comprometer a segurança.
“Mesmo na eventualidade de falha total, os pilotos são capacitados para conduzir um pouso de emergência”, destaca Carim. Casos como o famoso “Milagre do Hudson”, quando um Airbus A320 aterrissou com segurança no rio Hudson após perder os dois motores, são raros. Na maioria dos casos comuns, a equipe identifica o motor afetado, desliga-o e retorna ao ponto de partida.
### 3. Problemas Hidráulicos e de Controles de Voo
O movimento das asas e dos lemes depende de sistemas hidráulicos que amplificam a força aplicada pelos pilotos. Quando há falha em um desses sistemas, as aeronaves contam com circuitos redundantes, ou seja, sempre há outra linha pronta para assumir o controle.
Os passageiros podem perceber, no máximo, um retorno inesperado ao aeroporto ou um pouso um pouco mais abrupto. Contudo, os protocolos garantem que a segurança da aeronave não seja comprometida. “Atualmente, qualquer falha é tratada com tranquilidade, seguindo checklists rigorosos que orientam as ações da tripulação”, afirma o professor.
### 4. Problemas no Trem de Pouso e Freios
O trem de pouso, que suporta as rodas e os freios do avião, pode apresentar questões mecânicas ou hidráulicas. Se isso ocorrer, os pilotos têm à disposição mecanismos manuais para desbloquear o sistema e assegurar um pouso seguro.
Em situações mais raras, se o trem de pouso não desce, os pilotos podem realizar um pouso de barriga. Apesar de essa manobra ser assustadora, ela é muito bem treinada e quase sempre resulta sem ferimentos. Neste ano, um voo da Qantas retornou a Brisbane devido a um problema no trem de pouso, mas o pouso foi realizado com segurança.
### Segurança e Treinamento Contínuos
As companhias aéreas costumam não divulgar informações sobre essas falhas para evitar alarmar os passageiros e preservar sua imagem. Porém, na prática, tudo faz parte de um sofisticado sistema de segurança.
Os pilotos realizam simulações anualmente e seguem listas de verificação detalhadas para cada tipo de falha. As aeronaves são projetadas com múltiplas camadas de redundância que permitem a continuidade do voo mesmo na eventualidade de falhas em um ou mais sistemas.
“Esses treinamentos e sistemas de redundância são fundamentais para que a aviação comercial seja considerada o meio de transporte mais seguro do mundo”, conclui Guido Carim.
Em resumo, os aviões enfrentam falhas com frequência, mas isso não impede que os pousos sejam realizados com segurança.


