A AerCap Holdings conseguiu transformar um dos maiores desafios da aviação em um sucesso financeiro notável. Menos de três anos após perder mais de cem aeronaves devido à invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022, a maior locadora de aviões do mundo está agora registrando lucros recordes, projecções de resultados ainda mais otimistas e uma posição de negociação fortalecida com companhias aéreas que enfrentam dificuldades financeiras.
Em junho de 2025, um tribunal em Londres decidiu a favor da AerCap, concedendo cerca de um bilhão de dólares em indenizações por aviões e motores que foram retidos na Rússia. Essa decisão importante foi um marco na trajetória de recuperação da empresa, aumentando o total de reembolsos decorrentes do conflito para aproximadamente 2,5 bilhões de dólares, o que ajuda a compensar a perda de 2,7 bilhões de dólares que a AerCap enfrentou quando Moscovo confiscou aeronaves de propriedade estrangeira, desafiando as sanções internacionais.
Pouco tempo depois, a AerCap revisou sua previsão de lucro anual para cerca de 13,70 dólares por ação, superando a estimativa anterior de 11,60 dólares, impulsionada por vendas recordes de ativos no terceiro trimestre de 2025. A empresa, com sede em Dublin, vendeu 32 ativos – incluindo aeronaves, motores e helicópteros – que totalizaram cerca de 1,5 bilhão de dólares, com ganhos de 332 milhões, em comparação com 102 milhões no ano anterior. Esses resultados, que excederam as expectativas do mercado, destacaram tanto a recuperação da AerCap quanto a robustez do atual cenário de leasing de aeronaves.
O CEO da AerCap, Aengus Kelly, atribuiu o sucesso ao gerenciamento disciplinado do portfólio e à persistente escassez de novas aeronaves. Ele observou que a demanda por arrendamentos ainda supera a oferta disponível, em parte devido aos atrasos nas entregas pela Boeing e pela Airbus, criando um mercado favorável para os locadores.
Esse cenário ficou evidente em um acordo fechado em outubro com a Spirit Airlines, que se reestruturou sob o Capítulo 11. Embora a Spirit tenha rejeitado arrendamentos de 27 aeronaves da AerCap para cortar custos, comprometeu-se a pagar 150 milhões de dólares ao locador e a manter os direitos de entrega de 30 novos jatos. O pacto encerra todas as disputas entre as duas empresas e permite que a AerCap redirecione esses aviões para mercados mais promissores, onde as tarifas de arrendamento estão em alta.
Analisando a situação, especialistas veem a negociação com a Spirit como um indicativo da crescente flexibilidade financeira da AerCap. Após anos de aquisições — incluindo a compra da GECAS da GE em 2021 a empresa controla atualmente uma frota de mais de 3.500 aeronaves, seja de propriedade, geridas ou encomendadas. Diante de taxas de juros elevadas e uma produção industrial restrita, a AerCap e seus concorrentes estão ditando termos que anteriormente seriam inimagináveis.
Essa transformação também reflete uma mudança mais abrangente na dinâmica do setor. Antes considerado um negócio cíclico e de margens baixas, o leasing de aeronaves agora é fundamental para o financiamento global da aviação. Problemas na cadeia de suprimentos, inflação alta e atrasos na entrega tornaram os locadores parceiras essenciais para as companhias aéreas que buscam aumentar sua capacidade sem grandes investimentos de capital.
Entretanto, o cenário ainda apresenta riscos. Uma recessão econômica ou uma queda nos valores das aeronaves pode frear o impulso da AerCap. A empresa ainda está processando outras reclamações de seguros referentes a jatos retidos na Rússia, e o aumento das taxas de juros pode impactar futuros negócios. Mesmo assim, a combinação de vitórias jurídicas, vendas robustas e uma estratégia adaptável consolidou a AerCap como líder indiscutível no mercado global de leasing de aeronaves.

