Cresce a expectativa sobre a possibilidade de brasileiros viajarem mais de avião do que de ônibus. Entenda os dados e a situação

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A ausência de informações sobre ônibus fretados gera confusão na interpretação. Crédito: Frankito, o curioso | Estadão

A discussão sobre o desenvolvimento de um novo avião pela Embraer, com capacidade para aproximadamente 200 passageiros, foi reavivada este mês, após declarações do CEO da Lufthansa, Carsten Spohr. Durante sua visita ao Brasil, o executivo expressou vontade de que a fabricante nacional produza jatos maiores, prometendo conversas com as lideranças da Embraer. O apoio e as encomendas de companhias aéreas serão essenciais para a viabilização do projeto.

A atual linha de produção da Embraer contempla aviões de até 146 lugares e um alcance de 5.556 quilômetros, fazendo com que o maior modelo disponível dispute espaço apenas com o A220 da Airbus, que transporta até 160 passageiros.

Se a Embraer passar a conceber aeronaves de maior porte, ela entraria diretamente em competição com a família do A320 da Airbus (com capacidade de 120 a 244 lugares) e com a linha 737 da Boeing (com jatos entre 126 e 220 lugares). O histórico da aviação mostra que aeronaves para 150 a 180 passageiros são as mais requisitadas no setor comercial.

Em São José dos Campos (SP), a fábrica da Embraer tem uma equipe de engenheiros empenhada no desenvolvimento de um ‘carro voador’.

Consultada sobre o assunto, a Embraer declarou, em nota, que possui “produtos novos e competitivos em todos os segmentos” e está concentrada na ampliação de vendas do portfólio existente. “Ao mesmo tempo, continuamos a investir em novas tecnologias, com o intuito de nos prepararmos para o próximo ciclo de desenvolvimento de produtos, independentemente do segmento (aviação comercial, executiva ou de defesa). Não obstante, não temos uma data específica para essa decisão.”

O presidente da companhia, Francisco Gomes Neto, reconheceu que a Embraer está considerando o desenvolvimento de um novo produto, embora ainda não tenha definido que tipo de avião será. Em julho, o executivo comentou ao Estadão que a ideia ainda está em estágio inicial de concepção.

“Estamos avaliando possibilidades para novos produtos no futuro, que podem incluir aviões executivos ou comerciais, mas essas considerações estão nas fases de estudo. Não temos uma resposta definitiva sobre qual será o produto ou como ele será produzido.”

Gomes Neto enfatizou que não há urgência em lançar um novo projeto, dada a atual situação em que aproximadamente 25% dos 4 mil engenheiros da empresa estão dedicados ao desenvolvimento do eVTOL (veículo aéreo elétrico e de decolagem vertical) pela subsidiária Eve, enquanto outra parte significativa do time está focada em aprimoramentos no portfólio atual.

Para um novo avião com cerca de 200 lugares, a estimativa de investimento gira entre US$ 8 bilhões (R$ 43,4 bilhões) a US$ 10 bilhões (R$ 55 bilhões), segundo Alberto Valerio, analista do setor no UBS BB. Caso o custo atinja US$ 10 bilhões, isso se aproximaria do valor de mercado atual da Embraer, que é de R$ 59,5 bilhões. “A companhia tem a expertise para desenvolver um avião desse porte, mas existem riscos envolvidos”, adverte Valerio.

O analista acrescenta que, para dar vida a uma nova aeronave, a Embraer precisaria captar recursos através da emissão de ações e dívida, além de estabelecer parcerias com clientes e fornecedores de componentes como motores e sistemas de navegação. “Garantir um volume robusto de pedidos por parte das companhias aéreas será fundamental.” Valerio sugere que o ideal seria que pelo menos três companhias do porte da Lufthansa realizassem pedidos de cerca de 300 aeronaves cada uma.

André Mazini, também analista do setor pelo Citi, compartilha a visão de que a Embraer possui a capacidade técnica para desenvolver um novo modelo. “A questão central é garantir a parte financeira e a continuidade na manutenção pós-venda. Atualmente, essa capacidade é boa, mas precisa de evolução contínua”, diz ele.

Mazini ressalta que as companhias aéreas “buscam claramente fugir do duopólio”. Com apenas Boeing e Airbus dominando a fabricação de jatos de 200 lugares, a entrada de um novo competidor poderia reduzir os preços das aeronaves. O CEO da Lufthansa, em sua visita ao Brasil, mencionou que o surgimento de uma terceira fabricante aceleraria a inovação e que há espaço no mercado para aviões de qualidade superior a preços mais acessíveis.

Quando pode acontecer essa decisão?

O analista do Citi alerta que executivos da Embraer já deixaram claro que a empresa não pretende embarcar em um projeto dessa envergadura sozinha e espera que as companhias aéreas colaborem com encomendas. “Uma forma de viabilizar o avião seria por meio de um aporte de cerca de US$ 3 bilhões das aéreas (em encomendas), mais US$ 3 bilhões de fabricantes de motores, como a GE, e US$ 2 bilhões do BNDES, além de mais US$ 2 bilhões da Embraer”, explica.

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Ambos os analistas concordam que a companhia não deve tomar uma decisão rápida. Para Valerio, nada será decidido até 2027. “A Embraer deseja amadurecer a Eve antes de iniciar um novo projeto.” A subsidiária que desenvolve o “carro voador” deverá finalizar o projeto e obter certificação até o final de 2027. “A equipe de engenharia está totalmente focada nisso”, ressalta o analista.

Mazini também compartilha a perspectiva de que a Embraer pretende ter a Eve “em boa situação” antes de encarar um novo desafio. “A direção da fabricante brasileira não quer sobrecarregar as finanças da empresa com múltiplos projetos simultaneamente.”

O analista observa que a Eve possui, por ora, apenas cartas de intenção de compras, que precisam ser convertidas em pedidos efetivos para que a empresa possa receber antecipações financeiras. “Quando isso ocorrer, a receita começará a entrar. Então as coisas poderão começar a evoluir.”

Por fim, Mazini acredita que a Embraer irá aguardar o desenvolvimento de uma nova geração de motores de aviões. Os detalhes dessa tecnologia devem estar definidos até 2027, e nenhuma fabricante de aeronaves irá lançar um jato com motores obsoletos, justificando assim a necessidade de esperar. “Não dá para dissociar um novo avião de um novo motor. Por isso, não devemos esperar anúncios (da Embraer) tão cedo, já que a empresa ainda precisa desse conhecimento sobre os motores.”

Além da expectativa de um anúncio em breve, o processo de desenvolvimento de um novo avião também não será rápido. As aeronaves que foram lançadas mais rapidamente levaram cerca de quatro anos entre o anúncio e o primeiro voo. Contudo, quando as fabricantes divulgam um novo projeto, elas normalmente já estão trabalhando nele há algum tempo.

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