Na aviação, o maior erro não é deixar de agir. O maior erro é agir quando não se deveria.

Existe uma fantasia perigosa ainda cultivada em alguns ambientes de que segurança se prova pela ação constante, pela decisão rápida, pela “coragem” de seguir adiante apesar dos alertas. Esse imaginário cria heróis de ocasião… e estatísticas permanentes.

A verdade é simples e incômoda: a segurança operacional madura se manifesta, muitas vezes, pela abstenção consciente. Não decolar. Não prosseguir. Não improvisar. Não “dar um jeito”. Essas não são decisões fracas, são decisões tecnicamente robustas.

Abster-se de uma conduta perigosa não é omissão. É gestão de risco. É leitura correta do cenário operacional. É respeito aos limites humanos, técnicos e sistêmicos.

Em um ambiente onde o risco é inerente, agir menos pode significar preservar mais: vidas, aeronaves, carreiras e a própria credibilidade do sistema. O problema começa quando a prudência passa a ser vista como falta de comprometimento e a imprudência, como virtude operacional.

A aviação não precisa de bravatas. Precisa de decisões sustentáveis.

Este artigo convida à reflexão sobre um ponto raramente celebrado, mas absolutamente essencial: saber quando não agir é uma das competências mais sofisticadas de um profissional da aviação e um dever técnico, ético e jurídico.

Porque, no fim das contas, o voo mais seguro nem sempre é o que decola.

Na aviação, quem sabe dizer “não” no momento certo… geralmente volta pra casa.

Por Hilton Rayol.

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